Está no Globo de 5 de novembro de 2005: “Traficantes da Favela do Rebu atacaram microônibus a tiros de fuzil. Uma pessoa morreu e oito ficaram feridas. A diarista Janaína Santos de Jesus foi atingida na cabeça e no tórax e morreu na frente dos filhos...”
Atacar transporte público cheio de passageiros a tiros de fuzil constitui terrorismo. Terrorismo em pleno Rio de Janeiro. No subúrbio, contra gente humilde. Se fosse na Zona Sul...
Se eu fosse o presidente Lula teria telefonado para a família de Janaína a fim de expressar minhas condolências — como fez no caso do brasileiro morto por equívoco pela polícia de Londres. Se eu fosse a governadora do Estado anunciaria medidas para trazer a paz de volta à cidade. Se eu fosse o prefeito do Rio, pressionaria a governadora e o presidente por ações mais eficazes contra o banditismo. Se eu fosse um deputado ou senador eleito pelo Rio proferiria um discurso em Plenário repudiando atos de terrorismo como o que vitimou Janaína. Se eu fosse o presidente da OAB, lançaria um manifesto pela restauração do Estado de Direito nas áreas dominadas pelo tráfico. Se eu fosse o presidente da ABI, protestaria contra o cerceamento da ação da imprensa nessas mesmas áreas. Se eu fosse o bispo, mandaria rezar missas pelo restabelecimento da paz na cidade. Se eu fosse a esquerda, organizaria manifestações ruidosas de protesto contra o arbítrio imposto às populações das áreas marginais e periféricas. Se eu fosse...
Este fim de semana não teve literatura nem Rio de Janeiro no blog. Estamos de luto por Janaína.
6 comentários:
Que tristeza, Ivo!
Que tristeza, Ivo! E parabéns pela crônica, você cumpriu seu papel de escritor, de pessoa que preserva as melhores qualidades humanas. Jogar um foco de luz sobre este fato que atingiu gente humilde e que vai passando sem destaque, em meio a tantas tragédias que vivemos, nos faz refletir sobre tudo, as estruturas de poder, nosso caráter como povo, nós mesmos. Parabéns.
Marilia
Disse-o muito bem, Ivo e com muita propriedade. Choca-nos a impavidez de todas essas instituições diante do quadro horrendo que se pinta a cada dia nesta nossa cidade. Onde estão as manifestações e atos de repúdio daqueles que deveriam zelar pela ordem?
Abraços machadianos!
Carlos Almeida
Infelizmente, o Brasil está sem governo, o Estado do Rio de Janeiro também está, e o Município, com sua GUarda Municipal desarmada, pouco pode fazer
Caro amigo escritor.
Como carioca, lamento profundamente por Janaína e outros mais. Porém, infelizmente, tenho saudades dos anos de chumbo onde eu "sonhava" com um Brasil mais justo, onde não houvessem tantos excluídos e tanto circo e, para minha tristeza: "tudo continua como dantes no quartel de abrantes".
Não se pode negar que quem sustenta e alimenta a bandidagem é a própria sociedade.
Estou apenas sendo franca e com saudades de Geraldo Vandré,Chico Buarque e outros...ah, viva Fagner!!!
Enviei uma cópia deste post ao Deputado Federal Eduardo Paes (PSDB-RJ) com a devida menção da autoria. É assim que temos que agir, escrevamos para os Deputados Federais e Senadores pelo RJ na Câmara e no Senado, que ganham muito bem para representar o povo do Rio naquelas casas! Para os endereços de e-mail, bastar visitar as páginas da Câmara dos Deputados e do Senado e mandar listar os parlamentares por Estado (esta opção está lá disponível)
IVO: lúcido, coerente, cruel, pontual, perfeito; aliás, antes não o fosse.
Ainda bem que parou, pois a lista é praticamente interminável.
Afinal, quem, e são muitos, devia ser não é...
Mas à lista, permita-me apontar, teria acrescentado em negrito os grupos dos direitos humanos.
(Enviado por e-mail)
Postar um comentário