RIO DE JANEIRO, 2005
Os detetives dos livros de Rubem Fonseca são espertíssimos. Notam tudo. Quem navegou deliciado pelas páginas de um livro como Bufo & Spalanzanni certamente se surpreendeu com a argúcia dos investigadores criados pela imaginação de Fonseca. Mas lamento informar que o próprio Rubem Fonseca não é tão atento: não notou que eu segui seus passos sorrateiramente pelas ruas do Leblon. Fonseca nem desconfiou. O criador não é tão arguto quanto suas criaturas.
Faz pouco tempo: Rubem Fonseca estava na fila do Supermercado Zona Sul, na rua General Artigas. Sozinho. Anônimo. Silencioso. Usava um boné, não para se proteger do sol - porque já eram sete da noite -, mas certamente para se resguardar da investida de algum leitor inconveniente ou, pior, algum repórter intruso, como eu. O horror, o horror, o horror.
Pensei com meus botões: vou fazer uma foto de Rubem Fonseca, a Greta Garbo das letras, o homem que devota um consistente horror a repórteres e fotógrafos. O problema é que minha máquina - amadora - estava em casa. Resolvi acompanhar, à distância, a caminhada de Fonseca pelas ruas, na saída do supermercado. Quem sabe? Se ele passasse em frente ao meu apartamento, eu teria trinta segundos para correr, pegar a máquina lá dentro e voltar para a rua, a tempo de eternizar o flagrante num disquete.
Rubem Fonseca saiu do supermercado, entrou à direita na General Artigas, dobrou à esquerda na Ataulfo de Paiva e seguiu, anonimamente feliz sob a lua do Leblon. Guardei uma distância prudente: fiquei sempre a uns dez passos do homem, para não perdê-lo de vista. Não perdi.
Rubem parou diante de uma banca. Bela imagem: o homem célebre e solitário contemplava as manchetes dos jornais pendurados na banca como se fossem roupas num varal. Mas lamento informar que perdi a foto perfeita. Não deu tempo ir buscar a máquina.
O homem sumiu de vista, entrou à direita na rua General Urquiza, caminhou em direção ao mar do Leblon. O repórter ficou a ver navios.
É tudo o que Rubem, o fugidio, sempre quis.
CENA 1 de "TRÊS CENAS ESTRELADAS POR RUBEM FONSECA". As cenas 2 & 3 você pode ler no excelente site do jornalista Geneton Moraes Neto em http://www.geneton.com.br/archives/000118.html.
FOTOS DO LEBLON: Ivo & Mi
3 comentários:
Parabéns! Conheci o blog através do Verdes Trigo, do Henrique. Rubens Fonseca é formidável nas tramas policiais. Comecei um trabalho sobre o livro citado no meu mestrado (trancado atualmente). Fico apreciando a Lapa agora...
Oi! Ivo,
Legal os textos aqui encontrados. E as fotos, então, nem se fala...
Parabéns pelo Blog.
Sônia
Grande Ivo!
Preciso dizer mais alguma coisa? Acho que não!
Querem lirteratura de qualidade?
Não precisam ir à LIvraria, não, venham para cá!
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