TEXTO EXTRAÍDO DAS PÁGINAS 150-51 DO LIVRO RIO SECRETO DE MANOEL DE ALMEIDA E SILVA, MARCIO ROITER E THOMAS JONGLEZ
O Cemitério dos Anjinhos, no interior do Cemitério São João Batista, é um dos lugares mais secretos, misteriosos, estranhos e impressionantes da cidade do Rio de Janeiro.
Ao passar pela entrada principal, da Rua General Polidoro, deve-se seguir a alameda principal. Aproximadamente a meio caminho da capela do cemitério (infelizmente fechada), deve-se tomar a alameda que vai para a esquerda, em direção à pequena colina, não construída, que faz parte dos limites do cemitério e que ocupa o ângulo nordeste deste, ao longo da Rua Álvaro Ramos.
Chegando ao pé da colina, uma escada de pedra leva ao topo, deixando para trás a leve agitação dos raros visitantes do cemitério. O ambiente muda rapidamente e, em alguns segundos, entra-se em uma floresta de aspecto selvagem, onde a escada bem disposta dá lugar a um caminho de pedras tortas, tomado pela vegetação. Em alguns metros, o ambiente muda mais uma vez: antigas construções emergem em alguns lugares, o que faz lembrar a “cidade perdida” da Colômbia [na verdade são nichos do cemitério]. Após alguns minutos, um pouco sinistros, chega-se, finalmente, ao fim da subida, onde, no desvio da última curva, encontra-se um impressionante terreno de cruzes brancas fincadas no solo. A visão impõe, naturalmente, respeito, e, em vez de atravessar o terreno, pode se virar à esquerda e contornar a colina. Do outro lado, chega-se atrás desse mesmo terreno. Existe, ainda, outro, também com cruzes, acima, à esquerda.
Este lugar raro, único, emocionante e inquietante é o cemitério dos Anjinhos. Contrariamente ao que se poderia pensar, ele não reúne, como em certos países, os corpos das crianças mortas antes de serem batizadas. Ele abriga os corpos das crianças mortas, com menos de sete anos, cujos pais não tinham meios financeiros para pagar uma sepultura oficial. O lugar já não aceita novos corpos desde 2008.
No vídeo a seguir, o corajoso editor deste blog sobe o morrinho em busca do Cemitério dos Anjinhos. SINISTRO!
PS. Depois de publicada a postagem recebi do Professor Milton Teixeira, por e-mail, estas informações interessantes:
O morro do cemitério, chama-se, em verdade, "Morro do Brocó", assim como aquele lugar do cemitério era a chácara do Brocó [corruptela de Berquó], ali há o rio Brocó e a rua General Polidoro chamava-se originalmente rua do Brocó [ou Berquó], em lembrança a um antigo proprietário da região, o segundo Ouvidor do Rio de Janeiro, Francisco Berquó da Silva Pereira, que, aliás, morava na rua da Cruz, a qual por este motivo passou a chamar-se rua do Ouvidor (1760).
Há um projeto da Concessionária RIOPAX de acabar como cemitério dos anjinhos e remover os restos mortais para outro lugar mais digno e/ou cremá-los, pois ali nas proximidades deve ser erguido em breve o crematório, cujas obras, aliás, já começaram.
Mais informações sobre o Cemitério dos Anjinhos podem ser obtidas na matéria Muitas cruzes, nenhum funeral de Liana Melo que pode ser acessada clicando aqui.
Mais informações sobre o Cemitério dos Anjinhos podem ser obtidas na matéria Muitas cruzes, nenhum funeral de Liana Melo que pode ser acessada clicando aqui.
7 comentários:
Guiado por você, fui até lá. O ambiente assusta, tanto abandono, arrepia, passo a passo, mostra como o mistério da morte tem ritmo horrível, sua face indesejada causa incômodo, desconforto, infunde medo. O que se esconde por trás dessas covas rasas? O tempo, que tudo sabe, bebe e lambe, me diz, em seus passos pelos degraus do silêncio, que sem resposta fico. (enviado por e-mail)
Vi, com curiosidade, o seu vídeo sobre o Cemitério dos Anjinhos.
Meio triste e mórbido, mas interessante... Visitas a cemitérios costumam ter efeito terapêutico.
Cemitérios sempre me lembram de versos que lí há muitos anos (não sei de quem é a autoria):
“Até nas flores se encontra a diferença da sorte,
Umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte.” (enviado por e-mail)
Grande Ivo
Boa surpresa você nos revela!
Antes de tudo, parabéns pelo fôlego e coragem.
Os sepultamentos são de que época?
Não seriam os “anjinhos” crianças falecidas sem batismo, isto é, pagãs?
Parabéns pela matéria, Nireu. (enviado por e-mail)
Nireu, na verdade quem revelou essa surpresa foram os autores do guia Rio Secreto, todas minhas informações tirei desse guia. Você verá que as crianças eram batizadas mas os pais não tinham recursos para bancar um túmulo com lápide, daí as covas rasas.
Esse filme [o vídeo] em breve será raridade, pois, como escrevi, esse cemitério
vai acabar... (enviado por e-mail)
Foi algo empolgante, nao haja duvidas e um daqueles mistérios que, afinal, são reais mesmo!... Mui grato pela partilha… (enviado por e-mail)
Essa parte acabou. e nao se ficou sabendo sse houve algum gesto religioso, algum último ato de piedade religiosa, para com estas crianças que passaram, reduzidas a números em uma cruz de pedra. Vi as cruzes, empilhadas próximo à escada no ponto 'da curva'. Alguma coisa deveria ter sido feita...
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