ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

5.11.17

CHEGADA DA PRINCESA LEOPOLDINA NO RIO DE JANEIRO

Desembarque da Princesa Leopoldina, gravura de Debret. Observe que o pavilhão onde ela desembarcou da galeota (porque os navios ficavam ao largo e os passageiros e cargas eram trazidos ao cais por embarcações menores) fica onde hoje é a Orla Conde. Atrás vemos o mosteiro de São Bento e as torres de sua igreja.

Depois de ter se casado por procuração em Viena em 13 de maio de 1817 com o príncipe D. Pedro, a Princesa Leopoldina (Maria Leopoldine Josepha Caroline, em português Maria Leopoldina Josefa Carolina, da casa de Habsburgo-Lorena) chegou ao Rio de Janeiro em 5 de novembro daquele mesmo ano, exatamente dois séculos atrás. O Padre Perereca, em suas Memórias, assim descreve o fato:

Eram quase duas horas da tarde quando Suas Majestades, e Altezas chegaram ao elegante Pavilhão do Arsenal Real; e ao desembarcar da galeota a Sereníssima Senhora Princesa Real D. Maria Leopoldina Josefa Carolina [sic] pela mão do seu Augusto Esposo, o Sereníssimo Senhor Príncipe Real D. Pedro de Alcântara, deram as fortalezas, e embarcações de guerra uma salva real, todas ao mesmo tempo; e o ar retumbou com os altos brados de repetidos vivas, que deram os numerosíssimos espectadores, que do mar, e da terra presenciavam o desembarque de tão egrégia Princesa: e os sinos de S. Bento, seguidos dos demais sinos das igrejas todas desta cidade, com alegres, e harmoniosos repiques anunciavam ser aquele o feliz momento, em que a augusta filha do César austríaco pisava o solo do Brasil, e ia entrar como em triunfo na mais afortunada cidade do Novo Mundo, por tantos motivos já tão ditosa, e agora ainda mais pela posse de tão preciosa, e inestimável joia, que com os seus brilhantes reflexos vinha realçar a beleza dos luzentes diamantes, que ornam a Real Coroa Portuguesa.

Leopoldina, Arquiduquesa d'Áustria, Princesa Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em gravura de Jean François Badoureau

Noticiou a Gazeta do Rio de Janeiro do sábado, 8 de novembro de 1817:


Primeira página da Gazeta do Rio de Janeiro de 8/11/1817

Quarta-feira 5 do corrente pela manhã recebendo-se a mui grata notícia de se avistarem as naus e fragata, que compunham a esquadra, que conduzia Sua Alteza Real a Sereníssima Senhora Princesa Real do Reino Unido de Portugal, do Brasil e dos Algarves, encheram-se logo de alvoroço os ânimos de todos os portugueses, e os montes sobranceiros a essa cidade começaram desde logo a cobrir-se de imenso povo, que com os olhos pregados no horizonte, aguardava impaciente a chegada da afortunada nau, que trazia o complemento dos mais ardentes desejos. [...]  É impossível descrever o alvoroço, com que o povo corria pelas ruas como transportado, e o imenso concurso [=afluência], que juncava o Arsenal Real da Marinha. Com efeito era ele digno de toda a atenção, e foram precisas longas páginas para referir a elegância, que ostentava.

Leopoldina a cavalo, fotografia de autor e data desconhecidos. Todas as imagens desta postagem foram obtidas na Biblioteca Nacional Digital.

Os textos a seguir foram extraídos dos "textos de parede" da exposição Leopoldina, princesa da Independência, das artes e das ciências exibida pelo Museu de Arte do Rio de 12/07/2016 a 26/03/2017.  Para ter acesso aos textos completos clique aqui.

O casamento

O marquês de Marialva, emissário da corte de dom João VI para tratar do casamento, apresentou à princesa a imagem de um Brasil paradisíaco, que Leopoldina descreveu para a irmã Luísa, em 4 de outubro de 1816, como

país magnífico e ameno, terra abençoada que tem habitantes honestos e bondosos; além disso louva-se toda família, têm muito bom senso e nobres qualidades... mas esteja convicta que o meu maior empenho será corresponder à confiança que toda família e meu futuro esposo em mim depositam através de meu amor por ele e do meu comportamento

O casamento foi realizado por procuração em Viena, no dia 13 de maio de 1817, data de aniversário de dom João VI. O noivo, que não estava presente, foi representado em cerimônia pelo arquiduque Carlos, tio paterno de Leopoldina. No Rio de Janeiro, também foi festejada a notícia do ajustado enlace. Mas dom Pedro I e a arquiduquesa da Áustria só se viram pela primeira vez cinco meses depois – a bordo do barco que a trouxera. Dona Leopoldina desembarcou no Rio de Janeiro em 5 de novembro. No dia seguinte, as definitivas cerimônias de matrimônio se pronunciavam na Capela Real [atual Igreja de N.S. do Carmo da Antiga Sé, na Praça XV] e enchiam de vida eventos por toda a cidade.

Simplício de Sá, Pedro I e a Imperatriz Leopoldina, óleo sobre tela, Fundação Romão Duarte

A viagem

A viagem de Leopoldina ao Brasil foi difícil e demorada. A arquiduquesa partiu de Viena em direção a Florença em 2 de junho de 1817, onde esperava definições da corte portuguesa para prosseguir com a travessia que a levaria ao marido, dom Pedro. Ainda era recente o restabelecimento da ordem monárquica, destituída em Recife por revoltosos de ideias liberais no episódio conhecido como Insurreição Pernambucana.

Dona Leopoldina embarcou em Livorno, na Itália, na esquadra portuguesa composta das naus D. João VI e São Sebastião. Era a primeira vez que via o mar. Com uma bagagem de princesa e numerosa comitiva, enfrentou 86 dias de travessia nas águas do Atlântico. Quarenta caixas da altura de um homem contendo o enxoval, livros, suas coleções e presentes para a futura família somavam-se a algumas damas da corte, uma camareira-mor, um mordomo-mor, seis damas, quatro pajens, seis nobres húngaros, seis guardas austríacos, seis camaristas, um esmoler-mor, um capelão, um secretário particular, um médico, um mineralogista e seu professor de pintura.

Partiu definitivamente rumo ao Brasil em 15 de agosto. As diferenças de hábitos e costumes, notadas já no período em que esteve embarcada, prenunciavam as dificuldades que teria de enfrentar no Rio de Janeiro. A primeira vez que pisou em território português, contudo, não foi em terra Brasilis, mas na Ilha de Madeira, em 11 de setembro de 1817.


Hippolyte Taunay, Desembarque de S. A. a Princesa Real do Reino Unido, Portugal, Brasil e Algarves na cidade do Rio de Janeiro no Arsenal Real da Marinha

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