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Catumbi e Rio Comprido são dois bairros tradicionais da Zona Norte desfigurados & violentados & enfeados por obras viárias integradas aos túneis de ligação entre as zonas Sul e Norte (respectivamente, Santa Bárbara e Rebouças). Muitos cariocas só conhecem do Rio Comprido a "vista" do alto do elevado ou, na melhor hipótese, o Le Buffet (de alguma recepção de casamento), na Rua Santa Alexandrina (os judeus talvez conheçam o Lar dos Velhos nesta mesma rua). Mas elevado à parte, o bairro abriga algumas preciosidades arquitetônicas, como atestam as fotos desta postagem, entre elas uma das mais bonitas construções de nossa arquitetura colonial. Aliás, o Rio Comprido ainda bucólico, arrabaldino de 1910, é descrito na obra do gigante do memorialismo brasileiro Pedro Nava (ver trecho do Baú dos Ossos no final desta postagem).
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CASA DO BISPO - Uma das mais belas residências rurais do Brasil (uma casa de chácara), construída no início do século XVIII para abrigar o segundo bispo do Rio de Janeiro. Tombada pelo IPHAN em 1938, desde 1980 pertence à Fundação Roberto Marinho. "É uma perfeição realmente, obra do nosso Brigadeiro Alpoim. Não me canso de admirar a elegância, a sobriedade, a harmonia e o entrosamento com a paisagem da nossa arquitetura colonial." Alexei Bueno. |
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Igreja de São Pedro, neorromânica, mas com portada barroca destoante. Rua Paulo de Frontin. |
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Portada barroca da Igreja de São Pedro destoando do resto da igreja. Trata-se da portada da antiga igreja de São Pedro dos Clérigos, do séc. XVIII, derrubada para a construção da Av. Presidente Vargas. |
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Chafariz das Fundições Val d'Osne (França) na Praça Condessa Paulo de Frontin tombado pelo município. |
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Sobrados ecléticos geminados na Praça Condessa Paulo de Frontin. |
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O mostrengo. |
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A Av. Paulo de Frontin foi aberta em 1919 com a canalização e retificação do Rio Comprido. Violentada, enfeada e desfigurada pelo "mostrengo", ainda preserva muitas casas bonitas da primeira metade do séc. XX. |
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Rua Paula Frassinetti: uma rua tranquila como eram as ruas de Ipanema na minha infância. |
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Casa de Cultura da Universidade Estácio de Sá - campus Rebouças - de 1912 na Rua do Bispo (Rio Comprido). |
Trecho do Capítulo IV, "Rio Comprido", do livro Baú de Ossos de Pedro Nava:
VINHA de encostas doces de Santa Teresa, da serra da Lagoinha, das escarpas do Corcovado. Por comprido, comprido — rio Comprido ficou sendo. Recebia o Catumbi (que quer dizer "água de mato escuro"), o Coqueiros, o Bispo. Outros. Os caminhos desses córregos é que fizeram o rebolado da Rua Santa Alexandrina, o meneio da do Bispo e o ondulado de Aristides Lobo — cujos ziguezagues, curvas e voltas mostram o traçado fluviátil livre, antes da canalização, antes das galerias subterrâneas. Juntavam-se, paravam, faziam atoleiros, mangue, pantanal — ali onde erigiram o Largo do Rio Comprido. Inchavam, transbordavam e seguiam lambendo Aristides Lobo e os fundos das casas de Barão de Ubá (depois de molhar Itapagipe e Haddock Lobo). Seguiam para o Aterrado, iam se jogar no Canal do Mangue, entre Miguel Frias e São Cristóvão. Suas inflexões é que traçaram Aristides Lobo, aliás Malvino Reis, aliás Rua do Rio Comprido. Vinha primeiro a curva cujo ápex está na atual junção de Campos da Paz e Ambirê Cavalcânti. Aquela já foi só da Paz e terminava ali. Depois prolongaram-na até Paulo de Frontin, trocaram seu nome para Dr. Costa Ferraz e, quando este médico foi esquecido, pelo de seu colega Campos da Paz — Artur Fernandes Campos da Paz, professor da Faculdade, abolicionista, republicano, antimilitarista e adversário de Floriano, que o perseguiu e desterrou para o Amazonas. Conserva a designação e vai fazendo lembrar outros Campos da Paz, os três Manoel Venâncio, também médicos, o avô (amigo de meu Pai), o filho, o neto (meus amigos), todos mortos... A segunda é a antiga Rua do Morro e morro por esse nome! Depois da primeira volta, cotovelo em sentido contrário; nova mudança de rumo e início do arco demorado que acaba em Barão de Itapagipe. Aí o logradouro tornando a torcer, passando aos pés da Rua Colina, entrava no seu fim — a hoje Travessa do Rio Comprido. Este, o rio, freava seu curso nos atoleiros que, entulhados, fizeram a Rua do Engenho Velho (que é o trecho da Haddock Lobo que vai até o Estácio). A Rua Colina lembra Ouro Preto e Belo Horizonte. Ouro Preto, pelas velhas casas, pela ladeira, Belo Horizonte, porque sobe e abre no céu, como a Avenida Álvares Cabral. Passou a chamar-se Quintino do Vale. A Travessa Rio Comprido era a parte final de Malvino Reis, até que o médico Roberto Jorge Haddock Lobo tivesse feito a doação dos terrenos onde se abriu a entrada direta entre aquela travessa e a rua de seu nome.
Quem olha as subidas de Quintino do Vale (antiga Colina), Maia Lacerda (antiga Leste), Vieira Sampaio, Ambirê Cavalcânti (antiga do Morro) e Campos da Paz (que já foi só da Paz) percebe que tudo foi condicionado pelas picadas que escorriam dos altos de Santos Rodrigues (ao nascente) e iam terminar nas margens do rio Comprido. Nestas se desenhou a rua, claro que primeiro o que é hoje o lado ímpar. As casas que sobraram do velho tempo são muito maiores, mais luxuosas e mais antigas neste, que no lado par. o arruamento ficaria longe do rio para evitar suas cheias, seus mosquitos, seus miasmas. Mas seguindo a linha de ouro do rio. As terras da direção da Tijuca devem ter sido loteadas depois: os prédios do poente, mesmo os mais antigos, não são vetustos como os fronteiros. Assim ter-se-ia formado a Rua do Rio Comprido, [atual Aristides Lobo], de que vem o nome de Rio Comprido dado a um trecho especial da freguesia do Espírito Santo.
Para mais informações sobre o bairro do Rio Comprido visite As Ruas Do Rio.
5 comentários:
Ivo,
Parabéns por mais este livro publicado.
Agora os escritores ganharam mais um espaço para mostrar o seu trabalho. O site Los Burrachos: http://www.losburrachos.com.br/
Desde já o convido para uma entrevista para o site Los Burrachos.
Espero você e seus seguidores no meu blog: http://visaodeumburrachosolitario.blogspot.com/
Abrax. Inté.
Grande Ivo,
Um espetáculo esta postagem sobre o bairro do Rio Comprido!
Tuas fotos estão cada vez melhores, mesmo sem o uso de equipamento profissional. Acho que é o "olho clínico carioca" cada vez mais treinado! Aquela do elevado ("O monstrengo"), eu achei inspiradíssima.
Gostei também da ideia do slideshow para as fotos (excelentes) da Casa do Bispo.
Parabéns! Mais uma postagem "show de bola" do blog mais charmoso sobre a Cidade Maravilhosa!
Abração.
Olá! Muito interessante o blog, parabéns! Gostaria de indicar as redes sociais da Casa França-Brasil. O Centro Cultural Carioca é difusor de Arte Contemporânea, com Exposições, Projeto Educativo, Sala de Leitura e Bistrô. Construção Neoclássica tombada, projetada no séc XIX, pelo francês Grandjean de Montigny.
Nessa quinta-feira (17/02), 18h30 teremos a Mesa Redonda e Lançamento do catálogo da exposição “Grande”, de Laura Lima, com a presença de Lisette Lagnado (Profa. e crítica de arte), Roberto Corrêa dos Santos (Prof. e teórico de arte), Laura Lima (artista). Mediação de Felipe Scovino (Crítico de arte).
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Ivo,
Adorei a postagem sobre o Rio Comprido. Realmente o Pedro Nava arrasou em suas memórias sobre o bairro né ? a quantidade e qualidade das informações... e obrigada pelas fotos maravilhosas!!!!! Você não quer aproveitar o seu blog e falar dos moradores do bairro ? como o próprio Pedro Nava, Ari Leite, Tim Maia, Mário Barata, Diofrildo Trotta e etc... sheila
Ivo,
Adorei a postagem sobre o Rio Comprido. Realmente o Pedro Nava arrasou em suas memórias sobre o bairro né ? a quantidade e qualidade das informações... e obrigada pelas fotos maravilhosas!!!!! Você não quer aproveitar o seu blog e falar dos moradores do bairro ? como o próprio Pedro Nava, Ari Leite, Tim Maia, Mário Barata, Diofrildo Trotta e etc... sheila
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