ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

1.2.10

POEMAS DE COPACABANA

PoemasDeCopacabana1

COPACABANA
Geir Campos

dormes
            entre teus sustos
                                        relaxada
imagem do meu tudo
                                    e do meu nada

teu fundo respirar contemplo
                                                 é onde
a vida se pergunta
                              e se responde

enquanto dormes
                             por teu sono vela

trazida de uma ilhota peruana
      e aqui no exílio da sua capela

      nossa senhora de copacabana

PoemasDeCopacabana2

COPACABANA
Vinicius de Moraes

Esta é Copacabana — ampla laguna
Curva e horizonte, arco de amor vibrando
Suas flechas de luz contra o infinito.
Aqui meus olhos desnudaram estrelas
Aqui meus braços discursaram a lua
Desabrochavam feras dos meus passos
Nas florestas de dor que percorriam.
Copacabana, praia de memórias!
Quantos êxtases, quantas madrugadas
Em teu colo marítimo! Esta é a areia
Que tanto enlameei com minhas lágrimas.
Aquele é o bar maldito. Não estás vendo
Aquele escuro ali? É um obelisco
De treva: cone erguido pela noite
Para marcar por toda a eternidade
O lugar onde o poeta foi perjuro.
Ali tombei, ali beijei-te ansiado
Como se a vida fosse terminar
Naquele louco embate. Ali cantei
À lua branca, cheio de bebida
Ali menti, ali me ciliciei
Para gozo da aurora pervertida.

PoemasDeCopacabana3

Sobre o banco de pedra que ali tens
Nasceu uma canção. Ali fui mártir
Fui réprobo, fui bárbaro, fui santo
Aqui encontrarás minhas pegadas
E pedaços de mim por cada canto.
Numa gota de sangue numa pedra
Ali estou eu. Num grito de socorro
Entreouvido na noite, ali estou eu.
No eco longínquo e áspero do morro
Ali estou eu. Tu vês essa estrutura
De apartamentos como uma colmeia
Gigantesca? Em muitos penetrei
Tendo a guiar-me apenas o perfume
De um corpo de mulher a palpitar
Como uma flor carnívora na treva.
Copacabana! ah, cidadela forte
Desta minha paixão! a velha lua
Ficava no seu nicho me assistindo
Beber e eu muita vez a vi luzindo
No meu copo de uísque, branca e pura
A destilar tristeza e poesia...
Copacabana! réstia de edifícios
Cujos nomes dão nome ao sentimento!...
Foi no Leme que vi nascer o vento
Certa manhã, na praia. Uma mulher
Toda de negro no horizonte extremo
Entre muitos fantasmas me esperava
A moça dos antúrios, deslembrada
A senhora dos círios, cuja alcova
O piscar do farol iluminava
Como a marcar o pulso da paixão
Morrendo intermitentemente. E ainda
Um brilhar de punhal, um riso acústico
Que não morreu. Ou certa porta aberta
Para a infelicidade: inesquecível
Frincha de luz a separar-me apenas
Do irremediável. Ou o abismo embaixo
Aberto, elástico, e o meu ser disperso
No espaço em torno, e o vento me chamando
Me convidando a voar... (Ah, muitas mortes
Morri entre essas máquinas erguidas
Contra o tempo!) Ou também o desespero
De andar, como um metrônomo, para lá
E para cá, marcando o passo do impossível
À espera do segredo, do milagre
Da poesia.

PoemasDeCopacabana4

Tu, Copacabana,
Mais que nenhuma outra foste a arena
Onde o poeta lutou contra o invisível
E onde encontrou enfim sua poesia
Talvez pequena, mas suficiente
Para justificar uma existência
Que sem ela seria incompreensível.

PoemasDeCopacabana5

POEMA DE COPACABANA
Nertan Macedo

(Mas há quem vele porque te ama,
Praia de cinza, violentada).
Copacabana de madrugada,
Abandonada a um mar cinzento;
Copacabana de madrugada
Exala um ar de indiferença.
Porque só nós estamos vendo
Copacabana abandonada,
Copacabana de madrugada:
Cinza espalhada num mar de cinza,
Cinza espalhada num mar de bruma,
Cinza cobrindo arranha-céus...
Copacabana está sozinha,
Violentada, prostituída,
Quem nesta hora te conhece
Sem riso, nua como uma noiva,
Lívida, triste, despenteada?
Vingo momentos de vã pureza,
Teu sol dourado, teu corpo branco,
Tuas manhãs mistificadas.
Copacabana de madrugada -
Tristeza, bruma, álgidos ventos... -
(Mas há quem vele porque te ama,
Praia de cinza, violentada).

PoemasDeCopacabana6

COPACABANA
Igor Fagundes

como se caminhasse rumo ao Leme
e viesse o sol pousar ao fim da tarde
na mochila, rumo à sede de entregá-lo
a algum poente que não fosse só miragem

aqui, onde há saudade em cada grão de areia
sobre os pés e a chamam dentro: maresia
de um menino cuja sombra traz o atlântico
de teu corpo – luz maior do que a avenida

aí, onde o verde dos olhos dita o trânsito
e um vento avança pelos lábios, sem buzinas
sem faróis, pois não há noite em céus da boca
e feito asfalto, é nossa pele a travessia

aqui, onde nas mãos terás copacabanas:
um forte ao fundo, a vista curva da varanda
a multidão em nós, teus fogos de artifício
o arpoador além do olhar, tramando abismos

como se nos bastássemos de morros, túneis
da Tonelero ao Rebouças, da Isabel ao Cantagalo
da tua voz ao meu chamado, este destino:
mochila aberta, entrego o sol ao teu caminho

PoemasDeCopacabana7

COPACABANA
Fernando Py

Mineral de tão ausência
paisagem retorno - areia
na palma da mão em concha
de onde escorre toda a infância
presa na praia perene
entre gritos e buzinas
e opressão de edifícios
sumida em crateras de asfalto

          desculpe o transtorno
         
estamos instalando o cérebro eletrônico

arrepio de tão moderno
castelos outrora
deserto de amor em selva maquinária
de onde escorre saliva de betume
cravo em cruz na crosta condenada
entre pés e pés — passeio destroço
no rio preto sempre interrupto e plão

          DESCULPE O TRANSTORNO
          ESTAMOS INSTALANDO
          O CÉREBRO ELETRôNICO

choque de dois habitando o mesmo corpo
épocas longes visitando a memória
mastro emergindo na onda primitiva
avião
brinquedo e criança na praia soterrados

          desculpe o transtorno

gravata e barba inúteis se acrescentam

PoemasDeCopacabana8

ao passado nos olhos
que água veem — colunas desabando
aos pés cuja nudez na areia se agasalha
e espuma nas mãos um pingo lasso
cola-se à pele — comunhão discreta

          estamos instalando o cérebro eletrônico

edifício em ruínas — sempre dois
brigando no corpo
presença do ontem nos gestos e na roupa
ciência maior e menos entregar-se
praia distante embora aqui
edifício em construção

                    crise
do ontem no hoje se expandindo

          desculpe o

as mesmas ondas onde? a pele primavera
onde? riso bebido em laranjada onde?
onde a lembrança mínima da praia?

          transtorno

caramujo inaudível ânfora da tarde
e a noite se avizinha apascentando

          estamos instalando

fios de essência ligam-se à medula
colorindo o princípio do velho
Copacabana pérola
          infinito
matemática

          o cérebro eletrônico

pesquisando a justeza das crateras
onde mais que todos mineral
isento de pureza e acalanto
o maduro obriga a infância a destruir-se.

PoemasDeCopacabana9

LUAR SOBRE COPACABANA
Celso Japiassu

Névoa e gás envolvem a lua,
paredes e muros de Copacabana.
Reflexos imitam a lua, deságuam
nas línguas negras,
são estranhos animais.

Invisível-indivisível, o corpo
anda: corpos velhos sob a lua.
Os velhos passam, não são vistos.
São peixes transparentes contra a água
de outros corpos na rua.

Entre o mar e os edifícios
o areal rompe as ondas,
suja os olhos e a boca,
constrói no ar seu roteiro.
Deixa traços no caminho.

Uma noite sem mistério
ou sonho. Um homem senta-se ao bar,
aspira o hálito do tempo,
bebe ao futuro. As horas,
uma a uma, desperdiçam seus sinais.

O movimento dos vultos,
cães silenciosos, homens apagados
misturados ao trânsito da noite.
O tempo espelha sua lâmina
no refluxo das águas.

O sereno, as sombras e o silêncio
juntam-se nas esquinas das ruas
e avenidas do Leme ao Posto Seis.
Transitam além dos olhos, na alma
que não consegue adormecer.

Há um território do sono
explorado pelo mar e seus ruídos,
habitação do medo, onde fantasmas
balbuciam sortilégios e os mortos
são aves recolhidas pelo vento.

PoemasDeCopacabana10
baconacapa
Cairo de Assis Trindade
(do livro Poezya que porra é essa?)

depois que eu descobri copacabana
esqueci a sonhada ida à grécia
o pôr de sol do sul na primavera
e o meu encanto por viver cigano

depois que eu conheci copacabana
desisti de ir pra lá de bagdah
pra paris ou qualquer outro lugar
mesmo que mais sagrado ou mais sacana

depois que mergulhei em suas águas
e me afoguei em sua noite insana
jamais voltei a ser o mesmo cairo

se me perdi nesta babel humana
quero morrer aqui em minha praia
e ir surfar no céu de copacabana

Fotos da Praia de Copacabana (em diferentes dias e horários) tiradas pelo editor do blog. Mas nem sempre o mar está calminho como nessas fotos; temos dias de mar nervoso também. Para ver nossas outras postagens sobre esse bairro carioca clique no marcador “Copacabana” abaixo.

4 comentários:

Roger de Sena disse...

Delícia de postagem, grande Ivo! Acabo de sair de um banho de poesia! Abraços. Roger.

Márcio Miranda Personal Trainer CREF 39806-G/RJ disse...

prefiro a praia de ipanema hehehe
+ o seu bairro eh mto bom mesmo pai
abração

Alethea disse...

Oi, Ivo. Parabéns pelo blog. Sou tradutora, uso o Babylon e pesquisei seu nome no google. Passei por aqui para elogiar pelo seu glossário do Babylon e agradecer por ter criado uma ferramenta tão útil, inteligente e precisa. Já me tirou de vários sufocos!

Alexandre Core disse...

Ivo,

Excelente combinação: O nosso Rio, fotografia e Poesia.

Sempre que passo aqui encontro posts muito interessantes e bem escritos.

abraço.