O futebol brasileiro gosta de escrever sua história no extremo. Várias vezes desceu  uma ladeira horrível ,  fomos parar no fundo do poço.  A primeira catástrofe do futebol brasileiro aconteceu na Copa do Mundo de 1950, no Maracanã.  Já vão longe aqueles idos.   O Brasil jogava pelo empate. Um gol fazia balançar o estádio com duzentas mil pessoas. Foi de Friaça no início do segundo tempo, lenços acenavam para os valentes atletas uruguaios. Veio o gol de empate dos uruguaios, Schiafino o autor da proeza. Um calafrio penetrava ossos e nervos do Maracanã com a lotação máxima. O inexorável iria acontecer aos trinta e quatro minutos.  O ponteiro Gighia chutava a bola e a grama. Ninguém acreditava no que se estava vendo,  a bola entrando entre a trave e o goleiro Barbosa. Lenços já não acenavam. Aquela coisa que só infundia medo, estupidamente sem tamanho, percorria todo o estádio.  Ninguém podia reverter o capricho dos deuses. Contava o locutor que, encerrado o jogo, a procissão de mortos saía do Maracanã, e o país,   que pensava e amava pelos pés, principalmente  naquele dia, em caos desencantava-se.
Outras derrotas amargas em campeonatos mundiais iriam acontecer e com elas ferimentos que teimam em não  cicatrizar.  Anotem a eliminação do Brasil pela primeira vez na fase de grupos,  Copa da  Inglaterra. Perdera para Portugal por três a zero e para a Hungria por três a um. Só conseguiu vencer a desconhecida Bulgária por dois a zero. Voltamos cabisbaixos  para casa. Na Copa de 1982, na Espanha, a lendária seleção, que  jamais sucumbiu à derrota contra a Itália, provou que o futebol não é apenas jogar bonito e ofensivo, mas resultado.  O Brasil, de Telê, Zico, Sócrates, Junior  e Falcão, era a vítima na Tragédia de Sarriá. Eliminado pela seleção italiana, a aguerrida azurra, de  Zoff e Paolo Rossi, por três a dois.  Em 24 de junho de 1990, outra derrota traumática.  Com uma seleção superior, com duas bolas na trave do adversário e um massacre desferido no tempo regulamentar, o  Brasil  foi eliminado pela  Argentina por um a zero. O lance do gol:  aos 35 minutos do final,  Maradona passou por três brasileiros e serviu Claudio Caniggia, que ficou cara a cara com Taffarel. O atacante teve calma para driblar o goleiro brasileiro e tocar a bola para o fundo das redes. Na Copa de 86, Zico e Sócrates perderam pênaltis, e o Brasil foi eliminado pela França de Platini.
Depois que ganhamos da França por cinco a dois na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, só fizemos perder em mundiais. O dia 12 de julho de 1998 deixou uma triste  lembrança para o torcedor brasileiro  na disputa da Copa do Mundo, na França. O time brasileiro enfrentou um duro jogo contra a Holanda, nas semifinais. Após o empate por 1 a 1, o jogo foi para as penalidades, vencidas pelo Brasil por 4 a 2. Na final,  o  Brasil entrou em campo para  sagrar-se hexacampeão mundial.  Com um futebol apático, sonolento, foi derrotado pelos franceses por 3 a 0, com gols de Zidane (2) e Petit. Antes do jogo, Ronaldo, principal estrela  do time brasileiro, sofreu uma convulsão em um episódio que abalou todo o time e que gera polêmica até os dias de hoje.  
         Pensávamos que o volume  da tragédia,  com o Brasil derrotado numa final de  Copa do Mundo, em sua casa,   fosse ser expulso do estádio na Copa de 2014, a ser realizada pela segunda vez nessa “pátria em chuteiras”, como dizia Nelson Rodrigues.    
          O pior dos traumas estava para acontecer. Sem Neymar, o craque do time, fora retirado de campo contundido,  pela falta abominável cometida pelo defensor da Colômbia, na partida anterior, os ares da tragédia começavam a ser anunciados  pelos ventos do azar.  Ele estava fora da final contra a Alemanha. Apesar dessa baixa enorme,  havia alguma confiança de que a batalha final seria vencida pela Seleção do Brasil.   Meu Deus, o que foi que aconteceu naquele dia vergonhoso? Perdemos  em casa outra Copa do Mundo,  dessa vez pelo humilhante placar de sete a um. Em poucos minutos já perdíamos  por três a zero, sofremos três gols de repente, um  atrás do outro.  
Perguntaram a Gerson, o meia-esquerda genial  da Seleção de 70, no México,  para muitos a melhor de todas em mundiais, como se explicava outra  catástrofe do  futebol em nossa casa.  Não se explica o que é inexplicável, respondeu. Sabem quando vai acontecer outra derrota vergonhosa dessas? A  seguir completou,    nunca.   
Como disse no início que o  futebol brasileiro gosta de escrever sua história no extremo, penso que  vamos ser hexacampeões de futebol na Copa do Mundo de Moscou.   
Até mais verde que te quero verde.  
* Cyro de Mattos é ficcionista, poeta e ensaísta.  Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia.  Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia). Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Tem livro publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha, Espanha e Dinamarca. Conquistou o Prêmio Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, em Gênova, Itália, com o livro “Cancioneiro do Cacau”, o  Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, com “Os Brabos”, contos,  Associação Paulista de Críticos de Arte com “O Menino Camelô”, infantil,  e o Prêmio Nacional Pen Clube do Brasil com o romance “Os Ventos Gemedores”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário