com trechos do cordel FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO do cantador, repentista, cordelista, violeiro e poeta JOSÉ JOÃO DOS SANTOS, O MESTRE AZULÃO
São Cristóvão é nos domingos
O ponto mais brasileiro
Encontro dos nordestinos
Que estão no Rio de Janeiro
Lá passam horas saudosas
Comendo coisas gostosas
E ouvindo um bom violeiro
O nordestino que fez
O grande Rio crescer
Construindo arranha-céus
Se arriscando a morrer
Comandado pelos gringos
Tem direito aos domingos
Ter seu lugar de lazer
O Campo de São Cristóvão
É palco de tradição
Dos primeiros nordestinos
Que deixaram seu torrão
Sua família querida
Vieram tentar a vida
Viajando em caminhão
Depois de dez, doze dias
Numa viagem sofrida
O Campo de São Cristóvão
Era o ponto de descida
Onde cada nordestino
Procurava seu destino
Em busca de nova vida
Iam para as construções
Onde outros trabalhavam
Trazendo carta e notícias
Dos parentes que mandavam
Aos domingos sem faltar
São Cristóvão era o lugar
Onde todos se encontravam
Ali passavam momentos
De saudade e alegria
Comprando coisas do norte
Que um e outro trazia
Fazendo reunião
No ponto da condução
De quem vinha e de quem ia [...]
Para matar as saudades
A feirinha era um consolo
Fava, feijão e farinha
Beiju, tapioca e bolo
Rapadura e requeijão
Alpargata e cinturão
Cachimbo e fumo-de-rolo
Chinelo e chapéu de couro
Maleta feita de sola
Alçapão pra passarinho
Colher de pau e gaiola
Apareceu folheteiro
Depois chegou sanfoneiro
E cantador de viola
Café e sarapatel
Pamonha e milho cozido
Ribaçã, carne-do-sol
Mel de abelha garantido
Feijão verde do sertão
Dando a gente a impressão
Que o norte estava chovido
Um pedaço do nordeste
Se via na Guanabara
Tinha até gente do sul
Conhecida pela cara
Uns vinham pra conhecer
Um comprar outro vender
Na feira dos paus-de-arara [...]
O Prefeito Cesar Maia
É grande admirador
Do caboclo nordestino
Honesto e trabalhador
Disse assim desta maneira
Eu vou dar a esta feira
Seu merecido valor
Vendo aquele Pavilhão
A anos desativado
Disse, não pode ficar
Este prédio abandonado
Vou tirá-lo da ruína
Para a Feira Nordestina
Vou construir um mercado [...]
No espaço grandioso
Fez a obra de primeira
Uma praça organizada
Com barracas em fileira
Cada, com sua extensão
Obedece a posição
De cada rua da feira
As ruas todas têm nomes
De pessoas de valor
Como diversos artistas
Cordelistas, cantadores
Alguns mortos, outros vivos
Uns que foram primitivos
Desta feira os fundadores
Tem a praça dos artistas
Cordelistas, e violeiro
O espaço do forró
Com o melhor sanfoneiro
Que no baião se destaca
Tem água em toda barraca
Com telefone e banheiro
A obra de César Maia
É atraente e granfina
A beleza arquitetônica
Nos encanta, nos fascina
Em qualquer ponto de vista
Vai atrair o turista
Para a Feira Nordestina
Quem já viu o Pavilhão
Em lixeira transformado
E hoje vê-lo tornar-se
No mais moderno mercado
Será do sertão a praia
O nome de Cesar Maia
Eternamente lembrado
Cantador, repentista, cordelista, violeiro e poeta, Mestre Azulão nasceu em Sapé da Paraíba (PB) e veio para o Rio de Janeiro com 17 anos. Herdou o apelido de Azulão de outro cantador, cujas toadas aprendeu aos 7 anos. Mestre Azulão é a memória viva da Feira dos Nordestinos, sendo um dos fundadores. Sua produção de cordel já atinge mais de 300 livros e já cantou na Europa e nos Estados Unidos. Morador de Japeri, Mestre Azulão tem três filhos, um de cada casamento.
Fotos do editor do blog tiradas na Feira de São Cristóvão em 2006, 2008 e 2012, estas últimas após as obras de revitalização que deixaram a feira mais bonita do que nunca (e mais cheia de gente também). Para mais informações visite o site da Feira de São Cristóvão. Clique no marcador "São Cristóvão" abaixo para ver outras postagens sobre esse histórico bairro carioca. E para terminar um pequeno vídeo amador com uma palinha do forró que rola lá na feira.