ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

1.11.12

OLHO NA BELEZA, IRMÃO! de Artur da Távola

É, meu irmão, nada diga a ninguém, mas novembro começou e, com ele, rigores de verão (deverão?). O ano acaba, sem nos darmos conta da rapidez, não faz mal. Muito está a acontecer nas árvores do Rio. É abrir olhos e coração para muita beleza. Mas precisa reparar.

Novembro traz delícias vegetais. O fícus, aquela árvore caladona, severa, monge vegetal, sem flor, enorme, só folhas e grandes galhos professores de sombras generosas (há muitos no Campo de Santana e na Praia de Botafogo), pois o discreto fícus fabrica suas bolinhas (são figuinhos do tamanho de um botão) agora por novembro. E não há delícia maior que pisá-las no chão. Ajuda a liberar as sementes e é inesquecível forma de prazer infantil.

fícus, aquela árvore caladona...
A reparar, também, que as mangas maduram a partir desta fase, seus pomos inchados de amor, suculentos, amorosos, delícia suprema. Segundo o escritor Rubem Fonseca, só se deveria comer manga nu, sentado dentro da banheira.

Novembro traz ainda florais encantamentos para o nosso Estado do Rio: alguns flamboyants abusados começam a florir, embora dezembro seja o seu mês; as acácias amarelas, pendões de ouro, começam o apogeu floral. Aleluia: ainda há casas e espaços onde poetas e sábios plantam acácias! Os hibiscos explodem flores deslumbrantes e exibicionistas, genitália à mostra e com razão, pois cada flor de hibisco só vive 24 horas.

alguns flamboyants abusados começam a florir...
as acácias amarelas, pendões de ouro...
Os hibiscos explodem flores deslumbrantes...
Os ipês calaram-se. Recolheram as flores. É época, porém, do jasmim. Tirante o de nuca de mulher depois de banho bom, não há cheiro mais delicioso que o do jasmim-do-cabo, aquele grande. Perfume de jasmim é o barato dos deuses. E há, ainda, os pequenos, a "dama da noite", por exemplo, jasmim minúsculo. E florem também neste novembro, fronteira assustadora do verão tropical, as árvores de jasmim-manga, de várias tonalidades, tesão das abelhas.

Perfume de jasmim é o barato dos deuses...
E para terminar, alerta, irmãos: as jaqueiras estão grávidas. Lindas. Reparem só. Pois assim é novembro, mês modesto e sem alardes, mas tinhoso como ele só.

Crônica publicada originalmente em O Dia de 3 de novembro de 1992.

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