ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

20.1.12

VIDIGAL

Placas "UPP Vidigal" e "Iluminação": os serviços públicos chegam ao Vidigal. Azulejos do projeto O Caminho dos Direitos Humanos de Françoise Schein (2001). Um conjunto de painéis desse mesmo projeto pode ser visto na entrada da estação de metrô Siqueira Campos.

Com a inauguração da UPP (a 19a da cidade) na última quarta-feira, 18 de janeiro, o Vidigal, livre da ditadura do tráfico, integra-se ao tecido da cidade, podendo agora ser normalmente visitado pelos apreciadores da “arte de flanar”. Aproveitei o feriado municipal de 20 de janeiro, dia de São Sebastião, e fui lá conferir. Aqui está o resultado.
O Vidigal é um bairro sui-generis. Embora à distância pareça uma enorme favela, existe toda uma área não-favelizada a nordeste, e existe uma zona limítrofe onde prédios de classe média e casas, como a da segunda foto a seguir, convivem com a comunidade próxima.

O Vidigal visto de baixo

Casinha à esquerda e mercado Super Rede à direita

Os agentes de Viana [Paulo Fernandes Viana, intendente geral da polícia de 1808 a 1821] eram implacáveis e truculentos. O mais famoso deles foi o Major Miguel Nunes Vidigal. Segundo-comandante da nova Guarda Real, Vidigal tornou-se o terror da malandragem carioca. Ficava à espreita nas esquinas ou aparecia de repente nas rodas de capoeira ou nos batuques em que os escravos se confraternizavam bebendo cachaça até tarde da noite. Sem se importar com qualquer procedimento legal, mandava que seus soldados prendessem e espancassem qualquer participante desse tipo de atividade — fosse um delinquente ou apenas um cidadão comum que estivesse se divertindo. Em lugar do sabre militar, os soldados de Vidigal usavam um chicote de haste longa e pesada, com tiras de couro cru nas pontas. O major também comandou pessoalmente vários assaltos a quilombos montados por escravos fugitivos nas florestas ao redor do Rio de Janeiro. Em recompensa pelos seus serviços, Vidigal recebeu de presente dos monges beneditinos, em 1820, um terreno ao pé do Morro Dois Irmãos. Invadido por barracos a partir de 1940, o terreno está hoje ocupado pela Favela do Vidigal, de onde se tem uma vista privilegiada das praias de Ipanema e do Leblon.

Trecho de 1808
de Laurentino Gomes (pp. 234-5)



Vista para o mar

Ao looonge (está vendo???) Ipanema e Arpoador

Deve ser difícil viver num lugar com uma das vistas mais bonitas da cidade  o mar à frente e a Mata Atlântica nos fundos , um comércio abundante e, agora, segurança 24 horas. E é. O Morro do Vidigal pode ser considerado a Zona Sul das favelas cariocas, mas, embora tenha as qualidades acima, está longe de ser um ambiente ordeiro. Com a chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), inaugurada na quarta-feira, a favela agora clama por uma faxina geral, um choque de ordem que ponha as coisas nos seus devidos lugares. (O Globo - Rio - para ler o resto da matéria clique aqui.)

As casas sobem o morro & os fios se entrecruzam

Homem de lata. Fotos do editor do blog.

15.1.12

ESTRADA DE FERRO FAZENDA MATO ALTO


Se eu contar que fiz um passeio de trenzinho maria-fumaça sem sair do Rio de Janeiro vocês acharão que é lorota, mas a foto acima não me deixa mentir. Sábado, 14 de janeiro, participei de um “Passeio Poético”, nos trilhos da Estrada de Ferro Mato Alto, promovido pelo Movimento de Preservação Ferroviária. Trata-se de uma pequena ferrovia, com cerca de 3,5 quilômetros de extensão, que o aficionado por trens Márcio Manela construiu em sua fazenda de gado, em Guaratiba. Ali passeamos em um trenzinho composto de vagões abertos construídos nas oficinas da fazenda, tracionados por uma das velhas locomotivas a vapor que o colecionador adquire e depois restaura nessas mesmas oficinas. “Passeio Poético” porque durante o passeio poetizas do grupo “Poetas do Trem” declamaram poemas sobre as velhas marias-fumaças (entre eles o que você lerá em seguida). Para saber onde se localiza a Fazenda Mato Alto clique aqui. Para ler matéria do Globo Rio sobre a fazenda clique aqui. A Mato Alto é uma das fazendas de Guaratiba onde se realizará uma missa campal por ocasião da visita do Papa. [NOTA POSTERIOR: Devido às chuvas fortes a missa acabou sendo transferida para Copacabana. Para ver a cobertura deste blog da Jornada Mundial da Juventude clique aqui.]




MARIA
Hernani Bottega

Ao raiar do sol, com um apito, ameaça a partida.
À tardinha, volta à romântica praça, início da ida.

Pertence a uma família cheia de graça.
Fama mundial, melhor não há quem faça.

            Chama-se Maria, Maria Fumaça

Gasta madeira, em carvão, na fornalha. Corre veloz,
serpenteia junto ao rio, aposta corrida com o albatroz.

Vence vales, sobe colinas, vara campos, assusta a caça.
Costura cidades, lugares e, por instantes, pela gente passa.

            Chama-se Maria, Maria Fumaça

Desfila imponente. Das outras se distingue bem à beça.
Engole trilhos com muita fome e diligente pressa.

E nesse contínuo vai e vem , o tempo passa.
Já quase, quase ninguém conhece Maria

            Maria Fuuu masss ÇAA


10.1.12

SER CARIOCA NÃO É CERTIDÃO DE NASCIMENTO, É UM ESTADO DE ESPÍRITO, de Aspásia Camargo


1. Riomania - Quando desponta o verão, tenho um encontro mágico e intransferível com minha cidade, o Rio de Janeiro. É o momento em que todos redescobrimos sua beleza e sedução. Suas riomanias, modismos e gingados, que se renovam a cada ano, revelando os seus mistérios e surpresas.  São as “bossas do verão”.


2. Somos gregários - Vivo também o prazer de  encontrar amigos em algum café ou bar de esquina, para comentar os últimos espetáculos, os próximos planos ou as mazelas da cidade. Por exemplo, como a cidade anda suja!


3. Pontos de encontro - No ano passado, várias tribos fizeram seu ponto no Arpoador, à noite, e as sorveterias de iogurte conquistaram a cidade! São as novidades que só o verão carioca oferece, aos que aqui vivem e aos que vêm ao seu encontro, atraídos por sua magia e sedução.


4. Rumo ao subúrbio! - A moda agora é frequentar novos recantos da cidade. Verdadeiras caravanas se organizam em busca do melhor botequim de subúrbio, com boa gastronomia a preços acessíveis, depois que alguns botequins tradicionais salgaram na conta. É o caso do Aconchego Carioca, em uma transversal da Rua do Mattoso, na Praça da Bandeira. Há também um porco embebedado no Cachambeer, em Cachambi, e um caldo de frutos do mar no Bar da Portuguesa em Ramos. É o charme da Leopoldina.


5. O verão sobe o morro - Cacá Diegues estava certo quando inventou Cinco X Favela. Agora, com muitas delas pacificadas, os cariocas frequentam mais as comunidades cheias de afetividade e emoção. Os estrangeiros, que vêm de países superindividualistas, ficam encantados com tanta interação. Comer uma boa feijoada no Bar do David, no Chapéu Mangueira é uma descoberta.  Mas houve também espetáculos de final de ano, nas lajes! Como o do Theatro Municipal na Rocinha, e a Orquestra Sinfônica no Alemão. A cultura erudita se mistura com a alma da nação.


6. O novo hit do verão - A onda agora é a redescoberta dos bairros, uma espécie de bairromania  que a Lei Seca facilitou. Afinal, ninguém quer levar multas ou perder a carteira frequentando bares muito longe de casa. Com isso, foram beneficiadas as economias locais. E, vamos combinar: é bem simpático frequentar as esquinas e a vizinhança, valorizando os arredores e os prazeres de nossa infância, como acontece em outros países que promovem sua própria cultura.


7. Aqui é o meu lugar - Como dizia o grande Osvaldo Nunes, “voltei, aqui é meu lugar, minha emoção é grande, a saudade era maior, e voltei pra ficar”. Então, fique! Puxe a cadeira, chame os amigos e, sem exageros, peça uma cerveja bem gelada… afinal, estamos no verão!


8. Fotomania - A reconquista dos bairros vem inspirando uma nova e verdadeira declaração de amor ao Rio de Janeiro.  As máquinas fotográficas e celulares clicam sem parar e são agora os olhos do carioca, que faz questão de apresentar as paisagens de sua preferência nas redes sociais. Esses flagrantes improvisados trazem a certeza de que o Rio de cada um continua lindo e merece virar a janela de todos nós.


9. How to be a carioca? - Ser carioca não é certidão de nascimento, é um estado de espírito. Uma opção de amor pela cidade de seus sonhos. Somos a única cidade do mundo que acolhe oficialmente [como cariocas] não apenas os que aqui nasceram, mas os que escolheram esta cidade para ficar. Além disso, são cidadãos honorários aqueles que voltam sempre e que têm pelo Rio um carinho especial, renovado a cada ano – em geral, no verão.


10. Identidade global - Já somos, sem perceber, uma cidade global. Nossa “carteira de identidade” preenche atributos típicos de uma metrópole internacional: capacidade de atração, espírito acolhedor, diversidade cultural, charme popular, opções de lazer e entretenimento. E mais aquela sensação de pertencimento:  aqui é o meu lugar. É este Rio global que precisa assumir o seu destino.


11. O que falta é gestão pública - Transporte de massa, escolas e hospitais de qualidade, um planejamento metropolitano, esgoto tratado, menos lixo, uma verdadeira economia empreendedora e criativa. E um Rio Banda Larga que, por enquanto, é apenas uma bandinha muito estreita… Mais alguns verões, e chegaremos lá!


Um ótimo verão carioca para todos!
Deputada Aspásia Camargo


Fotos do editor do blog

16.12.11

FESTIVAL DE PRESÉPIOS




Como se não bastasse a famosa Árvore de Natal, temos agora, pertinho da Lagoa, o belíssimo Festival de Presépios revitalizando o Jardim de Alah, parquinho que separa Ipanema do Leblon, onde eu brincava quando criança, mas que por muitas décadas andou meio esquecido & abandonado. Mais um dentre tantos eventos artísticos & culturais que abrilhantam a nossa Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil.

12.12.11

MUSEU DO VAL DE LITERATURA


Museu do Val de Literatura (casa maior atrás; a casinha na frente é o escritório do Waldir) na bucólica Andrade Costa

No sábado, 10/12, tive a oportunidade de ir à inauguração do museu que o poeta, ensaísta (maior autoridade brasileira viva em Raimundo Correia) e editor Waldir Ribeiro do Val criou em seu sítio na bucólica "aldeia" de Andrade Costa no município de Vassouras (estado do Rio de Janeiro): o Museu do Val de Literatura. Um museu extraordinário (em um local onde você menos esperaria encontrar algo assim), contendo uma coleção, fruto de toda uma vida dedicada à literatura (logo, uma vida bem vivida), de primeiras edições, livros e cartas autografadas, artigos e informações fascinantes sobre os gigantes da literatura brasileira. Vale a pena subir a linda serra — via Japeri, Miguel Pereira, Paty do Alferes e Avelar: entre no Google Maps, pesquise “Avenida das Flores, Vassouras” e depois afaste o zoom para ver como chegar lá — a fim de conhecer o museu do nosso amigo Waldir. Só que, aqui entre nós, um acervo desses mereceria vir para o Rio de Janeiro, onde mais pessoas poderiam desfrutá-lo. Se alguém porventura tiver alguma sugestão de onde poderia ser abrigado... O museu fica na Rua das Flores, 35, esquina com Avenida Carlos Val, em Andrade Costa, município de Vassouras. Telefone: (24) 2488.1143. E-mail: waldirdoval@yahoo.com.br


Entrada do museu na Rua das Flores

Faixa de boas vindas

O rico acervo: Graciliano Ramos e Jorge Amado

Augusto Frederico Schmidt, de quem Waldir Ribeiro do Val foi secretário-literário, revendo seus artigos e preparando a edição de seus novo livros

Igrejinha metodista e botequim (convivendo lado a lado) em frente ao museu

6.12.11

QUANTAS PRAIAS EXISTEM NO RIO DE JANEIRO?

A resposta está no livro PRAIAS CARIOCAS de CLÁUDIO NOVAES: 71. Achava que eram menos? Só em Paquetá são 14 e na Ilha do Governador, 17. Veja a lista completa das praias ao final da postagem.


PRAIAS CARIOCAS
Cláudio Novaes
Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos
Rio de Janeiro, 2011
Preço: 25 reais.

Apresentação

Assim como as sociedades humanas modificam a paisagem, o espaço natural também molda a experiência do povo que nele vive. Em poucas cidades a paisagem é tão essencial para a identidade de seus habitantes quanto no Rio de Janeiro. O carioca típico se orgulha de viver em um lugar que a Natureza escolheu como mostruário do seu catálogo de encantos: montanhas, florestas, rios — e praias.

Desde o século XIX, quando os banhos de mar passaram a ser considerados terapêuticos, a cidade avança ao longo da orla. Uma tendência que continua a movimentar o crescimento da metrópole, hoje ainda orientado para os bairros praieiros. Não buscamos apenas a beleza do horizonte oceânico. É nas praias que o carioca faz esportes, encontra os amigos, namora e lê. É nas areias que o habitante do Rio de Janeiro se sente mais conectado à essência da cidade. Nesse espaço que integra os diferentes grupos sociais, o Rio convive democraticamente com a sua diversidade.

Neste livro, o Instituto Pereira Passos oferece ao leitor um passeio por 71 praias da orla carioca  as ainda selvagens às bordadas de edifícios, das cheias de ondas às mais plácidas. Aceite o convite e mergulhe na alma do Rio de Janeiro.

Ricardo Henriques - Presidente do Instituto Pereira Passos

ONDE COMPRAR: Livraria Pereira Passos, Rua Gago Coutinho, 52 - Laranjeiras (saltar na estação de metrô Largo do Machado). Aproveite a ida à livraria para ver sua excelente seleção de obras sobre Rio e urbanismo e para pedir seu exemplar gratuito do Guia do Rio editado pela Riotur. O livro também pode ser comprado pela Internet na Livraria da Travessa.

LISTA DAS PRAIAS (informações e fotos de cada uma você obtém no livro citado; a foto abaixo é do editor do blog):



ZONA OESTE

1 Praia de Sepetiba
2 Praia de Dona Luiza ou Recôncavo
3 Praia do Cardo
4 Praia do Aterro ou da Brisa
5 Praia da Ponta Grossa
6 Praia da Venda Grande
7 Praia da Pedra de Guaratiba
8 Praia da Capela 
9 Praia da Marambaia 
10 Praia da Barra de Guaratiba
11 Praia do Canto 
12 Praia dos Búzios

REGIÃO DA BARRA DA TIJUCA
1 Praia do Perigoso Pequena ou Perigosinho
2 Praio do Meio 
3 Praia Funda 
4 Praia do Inferno
5 Praia de Grumari
6 Praia do Abricó
7 Prainha 
8 Praia da Macumba
9 Praia do Pontal
10 Praia do Recreio dos Bandeirantes
11 Praia da Barra da Tijuca 
12 Praia dos Amores 
13 Praia da Joatinga 

ZONA SUL 
1 Praia de São Conrado ou Gávea
2 Praia do Vidigal
3 Praia do Leblon 
4 Praia de Ipanema 
5 Praia do Arpoador 
6 Praia do Diabo 
7 Praia de Copacabana 
8 Praia do Leme 
9 Praia Vermelha 
10 Praia de Fora  (Forte de São João)
11 Praia do Forte ou de Dentro (Forte de São João)
12 Praia da Urca 
13 Praia de Botafogo  
14 Praia do Flamengo 

ZONA NORTE
1 Praia de Ramos 
2 Praia do Galeão
3 Praia de São Bento
4 Praia da Bica  
5 Praia da Ribeira 
6 Praia da Engenhoca
7 Praia do Zumbi
8 Praia das Pitangueiras
9 Praia da Bandeira  
10 Praia do Cocotá 
11 Praia Congonhas do Campo ou Barão
12 Praia da Guanabara
13 Praia dos Bancários
14 Praia da Rosa
15 Praia do Dendê
16 Praia dos Gaegos 
17 Praias de Tubiacanga
18 Praia de Itacolomi 

PAQUETÁ
1 Praia dos Tamoios
2 Praia do Buraco
3 Praia do Catimbau
4 Praia do Lameirão
5 Praia Pintor Castagneto ou dos Coqueiros
6 Praia de São Roque
7 Praia da Moreninha ou Comprida
8 Praia José Bonifácio ou da Guarda
9 Praia do Veloso
10 Praia Manoel Luís
11 Praia Moema e Iracema
12 Praia da Imbuca
13 Praia das Gaivotas
14 Praia Grossa  

17.11.11

COW PARADE RIO 2011




As vaquinhas simpáticas estão de volta no que é "o maior e mais bem sucedido evento de arte pública no mundo". O blog Literatura & Rio de Janeiro, sempre sintonizado com tudo que embeleze e promova a nossa cidade, não poderia deixar de registrar e documentar o evento. Aliás as vaquinhas já estiveram por aqui em 2007, como você pode ver clicando no indicador Cow Parade abaixo. Segundo o site da Cow Parade, "Há algo de mágico sobre a vaca. Ela representa coisas diferentes para pessoas diferentes ao redor do mundo: é sagrada, é histórica, mas o sentimento comum é de carinho. Ela simplesmente faz todos sorrirem." Inclusive quando comem um bom churrasco, eu acrescentaria.

12.11.11

UM DIA ESPECIAL


"Graças a Deus a Rocinha
que estava mal-afamada
Pelas tropas legais
hoje está sendo ocupada
Aquela comunidade
Passa a ter tranquilidade
E vai ser pacificada"

Em Um dia especial publicado em sua coluna ontem em O Globo, escreveu Merval Pereira: "Ontem foi um dia especial para o Estado do Rio, e não apenas porque estava lindo, um daqueles dias de luz, festa do sol, da canção de bossa-nova que nós cariocas gostamos de afirmar que só mesmo uma cidade como o Rio pode proporcionar. Havia razões concretas, palpáveis, para transformar o dia em especial, e não apenas vantagens intangíveis. Muitos cariocas acordaram com uma boa notícia na manchete dos jornais - outros devem ter sabido na televisão de madrugada: Nem, o chefão do tráfico da Rocinha, havia sido preso." (para ler a matéria completa clique aqui

Míriam Leitão, em sua coluna Panorama Econômico, escreveu: "A prisão do chefe do tráfico na Rocinha e a previsão de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na favela ícone do Rio são promissoras para todos os bairros, seja onde ele se encastelava, seja os bairros do entorno, mas é também uma excelente informação para o Brasil inteiro. Tráfico de drogas existe aqui e em qualquer lugar do mundo, mas no Rio o que se viu por muitos anos foi a consolidação da ideia de que em certas áreas o poder público não podia entrar; as pessoas, as empresas concessionárias de serviço público só poderiam circular se tivessem a ordem ou a aquiescência dos donos do pedaço. É intolerável no Estado de Direito que haja pedaços do país em que a circulação de pessoas e dos representantes dos poderes constituídos não possa ocorrer por determinação de autoridades estranhas à democrática." (para ler a matéria completa clique aqui

Desde a sua criação o blog Literatura & Rio de Janeiro se manifesta contra a ditadura do tráfico (clique no marcador violência abaixo para ler nossas matérias a respeito), e é com satisfação que vemos o Estado retomar os territórios dominados. Assim como Oswaldo Cruz livrou o Rio do flagelo da febre amarela, acredito que a história verá o governador Sergio Cabral (auxiliado pelo incorruptível Secretário de Segurança José Mariano Beltrame e pelos bravos policiais da banda limpa) como aquele que, enfim, devolveu a paz à Cidade Maravilhosa, livrando-a do flagelo do tráfico.

Nota: Os versos de abertura são dos cordelistas Gonçalo Pereira da Silva, Manoel Santamaria e Antônio de Araújo. Saiba mais clicando aqui.

30.9.11

SUBÚRBIOS CARIOCAS

Festa da Penha: Lavagem da escadaria

Feijoada da família portelense

Botequim no Riachuelo

Subúrbio é coisa relativa. O que era subúrbio (ou "arrabalde" na terminologia da época) no tempo do Império com a expansão da cidade deixou de ser. Por exemplo, no Cap. XVIII de Lucíola (1862), de José de Alencar, lemos: “Não saía mais durante o dia; à noite pedia-me que a levasse a algum arrabalde distante da cidade, à Lagoa, ou ao Cosme-Velho.”

Durante grande parte do século XX, chamaram-se subúrbios os bairros de população mais humilde que foram crescendo ao longo da linha férrea. Segundo o historiador Oswaldo Porto Rocha, “do mesmo modo que o bonde efetiva a ocupação de bairros na zona sul e norte, o trem possibilita a ocupação de áreas que hoje são chamadas suburbanas, algumas das quais recebem seus nomes em função da própria construção da ferrovia. Cascadura, por exemplo, é um nome originário da resistência do solo na ocasião da abertura dos leitos naquela área.” (A era das demolições

Assim, havia os subúrbios da Central e os da Leopoldina. Observe-se que o trem suburbano existe desde o tempo de Machado de Assis. Tanto é que seu Dom Casmurro começa pela frase: “Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.”

Quem melhor captou o espírito suburbano em nossa literatura foi Lima Barreto, de quem reproduzimos trecho do Capitulo 2 da Segunda Parte de Triste Fim de Policarpo Quaresma adiante.

Tecnicamente não existem mais subúrbios, a zona urbana engoliu tudo. O trem suburbano hoje se chama trem urbano (vide site da Supervia), e os antigos subúrbios hoje integram a Zona Norte.


Entrada florida (Riachuelo)

Casinhas de subúrbio (Riachuelo)

Capela de Santo Antônio (Riachuelo)

Coreto do Jardim do Méier

Estação Méier: ônibus versus trem

Trecho do Capitulo 2 da Segunda Parte de Triste Fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto:

Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação de cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram,porém, os azares das construções.

Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiram como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevards e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado.

Às vezes se sucedem na mesma direção com uma frequência irritante, outras se afastam, e deixam de permeio um longo intervalo coeso e fechado de casas. Num trecho, há casas amontoadas umas sobre as outras numa angústia de espaço desoladora, logo adiante um vasto campo abre ao nosso olhar uma ampla perspectiva.

Marcham assim ao acaso as edificações e conseguintemente o arruamento. Há casas de todos os gostos e construídas de todas as formas.

Vai-se por uma rua a ver um correr de chalets, de porta e janela, parede de frontal, humildes e acanhados, de repente se nos depara uma casa burguesa, dessas de compoteiras na cimalha rendilhada, a se erguer sobre um porão alto com mezaninos gradeados. Passada essa surpresa, olha-se acolá e dá-se com uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo palha, em torno da qual formiga uma população; adiante, é uma velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco classificável, que parece vexada e querer ocultar-se, diante daquela onda de edifícios disparatados e novos.


Grafite (Méier)

Não há nos nossos subúrbios coisa alguma que nos lembre os famosos das grandes cidades europeias, com as suas vilas de ar repousado e satisfeito, as suas estradas e ruas macadamizadas e cuidadas, nem mesmo se encontram aqueles jardins, cuidadinhos, aparadinhos, penteados, porque os nossos, se os há, são em geral pobres, feios e desleixados.

Os cuidados municipais também são variáveis e caprichosos. Às vezes, nas ruas, há passeios em certas partes e outras não; algumas vias de comunicação são calçadas e outras da mesma importância estão ainda em estado de natureza. Encontra-se aqui um pontilhão bem cuidado sobre um rio seco e passos além temos que atravessar um ribeirão sobre uma pinguela de trilhos mal juntos.

Há pelas ruas damas elegantes, com sedas e brocados, evitando a custo que a lama ou o pó lhes empane o brilho do vestido; há operários de tamancos; há peralvilhos à última moda; há mulheres de chita; e assim pela tarde, quando essa gente volta do trabalho ou do passeio, a mescla se faz numa mesma rua, num quarteirão, e quase sempre o mais bem posto não é que entra na melhor casa.

Além disto, os subúrbios têm mais aspectos interessantes, sem falar no namoro epidêmico e no espiritismo endêmico; as casas de cômodos (quem as suporia lá!) constituem um deles bem inédito.Casas que mal dariam para uma pequena família, são divididas, subdivididas, e os minúsculos aposentos assim obtidos, alugados à população miserável da cidade. Aí, nesses caixotins humanos, é que se encontra a fauna menos observada da nossa vida, sobre a qual a miséria paira com um rigor londrino.

Não se podem imaginar profissões mais tristes e mais inopinadas da gente que habita tais caixinhas.Além dos serventes de repartições, contínuos de escritórios, podemos deparar velhas fabricantes de rendas de bilros, compradores de garrafas vazias, castradores de gatos, cães e galos, mandingueiros, catadores de ervas medicinais, enfim, uma variedade de profissões miseráveis que as nossas pequena e grande burguesias não podem adivinhar. Às vezes, num cubículo desses se amontoa uma família, e há ocasiões em que os seus chefes vão a pé para a cidade por falta do níquel do trem.


Festa de São Jorge em Quintino

Casinha de subúrbio (Riachuelo)

Roda de samba (Oswaldo Cruz)

Estação Riachuelo

Casinha de subúrbio (Riachuelo)

Terreno baldio, algo cada vez mais raro na metrópole (Riachuelo)

Ladeira e morros (Cachambi)

Botequim (Oswaldo Cruz)

Estação Oswaldo Cruz

Avenida Dom Hélder Câmara, antiga Avenida Suburbana

Fusca (Jacaré)

Poema suburbano
Luís Peixoto (musicado por Bororó e gravado em 1956 por Orlando Silva — para ouvir clique na caixa MP3 no final)

Subúrbios, subúrbios
das moças prendadas
que fazem bordados
e querem casar,

dos cães vira-lata
que latem à lua,
enquanto as galinhas
se deixam roubar.

Das ruas barrentas,
tão simples e humildes
que até nem o nome
se lê nos jornais,

e sobem ladeiras,
de noite sozinhas,
de cem em cem metros,
um bico de gás.

Subúrbios do tempo
do chá com torradas,
sofá de palhinha,
xadrez e gamão.

Subúrbios teimosos,
dos trens atrasados,
subúrbios pacatos,
do meu coração!

Meu Deus, quem me dera
ir dar um passeio
com as vossas morenas,
cavar um namoro...

ir vê-las, aos pares,
domingo, na praça,
sorrindo pra gente
com um dente de ouro!

Ser noivo no Méier,
ouvindo uma valsa,
o "Sonho de Valsa",
mimoso, sutil...

Ser meio mulato
mulato e foguista
da Estrada de Ferro
Central do Brasil!