É, meu irmão, nada diga a ninguém, mas novembro começou e, com ele, rigores de verão (deverão?). O ano acaba, sem nos darmos conta da rapidez, não faz mal. Muito está a acontecer nas árvores do Rio. É abrir olhos e coração para muita beleza. Mas precisa reparar.
Novembro traz delícias vegetais. O fícus, aquela árvore caladona, severa, monge vegetal, sem flor, enorme, só folhas e grandes galhos professores de sombras generosas (há muitos no Campo de Santana e na Praia de Botafogo), pois o discreto fícus fabrica suas bolinhas (são figuinhos do tamanho de um botão) agora por novembro. E não há delícia maior que pisá-las no chão. Ajuda a liberar as sementes e é inesquecível forma de prazer infantil.
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| O fícus, aquela árvore caladona... | 
A reparar, também, que as mangas maduram a partir desta fase, seus pomos inchados de amor, suculentos, amorosos, delícia suprema. Segundo o escritor Rubem Fonseca, só se deveria comer manga nu, sentado dentro da banheira. 
Novembro traz ainda florais encantamentos para o nosso Estado do Rio: alguns flamboyants abusados começam a florir, embora dezembro seja o seu mês; as acácias amarelas, pendões de ouro, começam o apogeu floral. Aleluia: ainda há casas e espaços onde poetas e sábios plantam acácias! Os hibiscos explodem flores deslumbrantes e exibicionistas, genitália à mostra e com razão, pois cada flor de hibisco só vive 24 horas.
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| alguns flamboyants abusados começam a florir... | 
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| as acácias amarelas, pendões de ouro... | 
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| Os hibiscos explodem flores deslumbrantes... | 
Os ipês calaram-se. Recolheram as flores. É época, porém, do jasmim. Tirante o de nuca de mulher depois de banho bom, não há cheiro mais delicioso que o do jasmim-do-cabo, aquele grande. Perfume de jasmim é o barato dos deuses. E há, ainda, os pequenos, a "dama da noite", por exemplo, jasmim minúsculo. E florem também neste novembro, fronteira assustadora do verão tropical, as árvores de jasmim-manga, de várias tonalidades, tesão das abelhas.  
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| Perfume de jasmim é o barato dos deuses... | 
E para terminar, alerta, irmãos: as jaqueiras estão grávidas. Lindas. Reparem só. Pois assim é novembro, mês modesto e sem alardes, mas tinhoso como ele só.
Crônica publicada originalmente em O Dia de 3 de novembro de 1992. 
 
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