TEXTOS OBTIDOS NO SITE DA FUNDAÇÃO EMA KLABIN. FOTOS DO EDITOR DO BLOG.
Nascida no Rio de Janeiro em 1907, Ema Gordon Klabin era filha de Hessel Klabin e Fany Gordon Klabin, imigrantes lituanos vindos para o Brasil na última década do séc. XIX. Seu pai, naturalizado brasileiro em 1923, foi um empresário que se distinguiu no desenvolvimento da indústria do papel e da celulose no país.
Foi educada no Brasil e na Europa (Alemanha e Suíça), onde residiu durante a Primeira Guerra Mundial. Além da atividade empresarial, assumida em 1946, com a morte de seu pai, Ema dedicou-se a inúmeras atividades filantrópicas e assistenciais, dentre as quais se destaca o papel desempenhado na construção do Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo.
Apreciadora de música e de arte, Ema Klabin teve uma significativa atuação na vida cultural da cidade, com participação nos conselhos de instituições culturais, além de promover artistas, participar de leilões beneficentes em prol das entidades que apoiava e realizar concertos em sua própria casa com artistas de renome.
A partir do final dos anos 1940, passou a adquirir importantes obras de arte em galerias europeias e americanas, além de comprar diversas peças de outros colecionadores brasileiros e de diplomatas estrangeiros de passagem pelo Brasil. Além das obras de arte que ornamentavam a antiga residência paterna, Ema formou, no pós-guerra, um importante conjunto de telas de pintura européia, além de alguns itens de mobiliário europeu antigo.
Logo começou a acalentar o sonho de construir uma residência onde pudesse conviver com o belo acervo que ia se formando e onde pudesse receber seus familiares, amigos e artistas em ambiente refinado. A casa, feita sob medida para abrigar sua coleção, foi inaugurada no final de 1960.
Já no final de sua vida, e não tendo herdeiros diretos, Ema Klabin preocupou-se com o destino de sua coleção e, como sua irmã Eva fizera no Rio de Janeiro, criou a Fundação Ema Klabin para que sua casa se tornasse um museu aberto à visitação pública.
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Casa vista do jardim projetado por Burle Marx |
FUNDAÇÃO EMA KLABIN (Rua Portugal, 43 - Jardim Europa - São Paulo)
Oficialmente registrada em 1978, a Fundação Cultural Ema Gordon Klabin é uma instituição sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública federal, que tem por objetivos a promoção e divulgação de atividades de caráter cultural, artístico e científico, além da transformação da residência de Ema Gordon Klabin em museu aberto à visitação pública.
Os trabalhos de catalogação do acervo foram iniciados em 1997, três anos após o falecimento de Ema Klabin, e possibilitaram uma compreensão profunda das peças e sua história. Para divulgar o seu acervo, além da visitação pública, a Fundação Cultural Ema Gordon Klabin tem cedido obras para inúmeras exposições no Brasil e na Europa.
O imóvel sede da Fundação localiza-se à rua Portugal em São Paulo. O terreno, de quase 4.000 metros quadrados, faz parte do Jardim Europa, loteamento de alto padrão projetado pelo engenheiro-arquiteto Hipólito Pujol Jr. no final da década de 1920, nos mesmos moldes das cidades-jardim britânicas do contíguo Jardim América, projeto do urbanista inglês Barry Parker. Em sua proximidade estão outras duas instituições culturais: O MUBE – Museu Brasileiro da Escultura e o MIS, Museu da Imagem e do Som.
A construção, com cerca de 900 metros quadrados, foi cuidadosamente projetada e construída pelo engenheiro-arquiteto Alfredo Ernesto Becker, em meados dos anos 50, para abrigar a coleção reunida por Ema Klabin. A casa não possui um estilo definido, como era comum nas outras residências da época, unindo elementos clássicos, como os arcos plenos nas portas e janelas externas, com elementos modernos, notadamente nos materiais de acabamento utilizados. A decoração ficou a cargo de Terri Della Stuffa, também responsável pela distribuição e adaptação das peças pelos ambientes da casa.
Alfredo Ernesto Becker (1894-1963) nasceu em Porto Alegre e foi criado na Alemanha, onde realizou seus primeiros estudos. Após se formar pela Escola Politécnica de Zurique, em 1922, retornou ao Brasil e, depois de um breve período no Rio de Janeiro, estabeleceu seu escritório em São Paulo, em 1924. Por quase toda sua carreira, dedicou-se ao projeto e à construção de dezenas de residências de luxo nos novos bairros do Jardim América, Jardim Europa e Pacaembu.
Como era membro do corpo editorial da revista Acrópole, teve muitos projetos publicados, o que nos permite perceber que realizava seus projetos de forma pragmática, atendendo aos desejos de sua clientela e seguindo os estilos então na moda. Cuidava também da construção das casas e era conhecido pelo cuidado no detalhamento e na execução de seus projetos, que acompanhava de perto até à finalização.
Em 1937, durante viagem à Europa, encantou-se com o clássico modernizado que viu na Exposição de Artes e Técnicas da Vida Moderna, em Paris, bem como no estádio de Nuremberg, na Alemanha, e passou a adotar o estilo, que considerava “um ponto de partida para a sedimentação definitiva da arquitetura contemporânea”, em grandes casas que construiu na década seguinte, especialmente em torno da avenida Brasil. Foram justamente esses projetos que levaram Ema a conhecer seu trabalho e a contratá-lo, já que conseguiam unir o clássico ao moderno da forma que ela, naquela altura, desejava.
Os primeiros estudos que Becker realizou, no final de 1954, propunham uma casa de planta bem incomum, organizada em torno de um grande hall circular central, a partir do qual os ambientes se distribuíam em dois pavimentos. Chegaram a ser apresentadas cinco diferentes versões dessa solução, até que, em fevereiro de 1955, surgiu uma proposta completamente nova, na qual a casa tinha apenas um pavimento de planta quadrada, onde o hall foi substituído por um grande pátio aberto, circundado por uma galeria em forma de loggia. Curiosamente, não há nenhum desenho de fachadas ou elevações de todos esses estudos, indicando que já havia um certo consenso sobre o estilo a ser adotado.
Não se tem como saber de quem partiu a ideia de usar o Palácio de Sanssouci como modelo para o projeto seguinte, apresentado em março de 1955. Tanto Ema quanto Becker passaram a juventude na Alemanha, quando tiveram oportunidade de visitá-lo, e ambos estudaram a arte e arquitetura alemãs do período. É possível até que tenha surgido de uma conversa entre ambos, pois em um dos últimos desenhos anteriores foram feitas anotações indicando volumes circulares nas extremidades da fachada principal, em solução que já remetia ao palácio.
Projetado por Georg Wenzeslaus von Knobelsdorff, entre 1745 e 1747, para o rei Frederico II da Prússia, o palácio é um dos mais famosos exemplares da arquitetura rococó alemã. Concebido como residência de veraneio destinada a grandes festas e recepções, era um modelo perfeito para Ema, que também desejava uma casa de uso semelhante. Apesar de ser frequentemente comparado a Versailles ou ao Château de Marly, Sanssouci possui, ao mesmo tempo, uma escala monumental e dimensões reduzidas, com apenas dez aposentos principais.
Becker soube aproveitar o modelo com extrema habilidade, distribuindo toda a casa em torno de uma longa galeria semicircular, ligando, a partir do hall, os ambientes sociais aos íntimos, em solução também inspirada na planta de Sanssouci. A fachada voltada ao jardim repete fielmente as aberturas em arcos plenos, bem como a cobertura em rotunda sobre o hall.
Esse estudo evolui rapidamente para o anteprojeto, que conseguiu, finalmente, satisfazer todos os desejos de Ema. A casa proposta tinha ambientes amplos o suficiente para abrigar sua coleção, e o estilo das fachadas conseguia ser quase atemporal, ao aplicar materiais modernos e pouca ornamentação a um desenho clássico.
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Pompeo Batoni, Retrato de Dama como Diana Caçadora, 1760 |
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Talha do Mestre Valentim proveniente da Igreja de São Pedro dos Clérigos na sala de jantar |
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Jardim de inverno |
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Sala de jantar e jardim de inverno atrás |
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Relógio de piso francês estilo Luís XV na sala de música |
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Salão criado como um espaço de encontro e diversão |
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Escola Flamenca, Torre de Babel, séc. XVI |
Ivo, um bela narração, complementada por uma profunda pesquisa e sobre a visita a casa da Ema Klabin,nos Jardins.Eu visitei a casa e não observei, com tantos detalhes, as obras que você destacou,sobretudo, as peças esculpidas em madeira. Não me lembrava de tê -las visto, por isso
ResponderExcluiré tão interessante ler um texto sobre a visita, que sempre assinala coisas que passam desapercebidas.
Daniel Waitzfelder