O Centro Cultural São Paulo é ao mesmo tempo uma pujante obra de arquitetura e paisagismo & magnífico espaço de convivência e lazer cultural. Com estrutura de concreto e aço, segue à risca três dos cinco princípios da “nova arquitetura” enunciados por Le Corbusier. Primeiro, planta livre, independente da estrutura do prédio, permitindo a livre alocação das paredes. Na prática, significa um espaço interno não compartimentalizado como num prédio convencional. Você tem amplos espaços sem divisórias, permitindo uma circulação quase tão livre como se estivesse ao ar livre. Segundo princípio, fachada livre, igualmente independente da estrutura do prédio, proporcionando abertura máxima. E, terceiro, o “terraço jardim”: belíssimo jardim suspenso – pairando acima das pessoas, da biblioteca, da gibiteca, das exposições, do café, do cinema, do teatro... – com horta e tudo, cercado de prédios por todos os lados como não podia deixar de ser em São Paulo. Um oásis na metrópole, a “praia” do paulistano. A entrada é gratuita e o centro fica colado numa estação de metrô (Vergueiro).
Jardim Suspenso, cercado de prédios por todos os lados |
Cinema em Transe |
Escada para o Jardim Suspenso |
Expressão corporal |
Em sua dissertação de mestrado TRÊS CENTROS CULTURAIS NA CIDADE DE SÃO PAULO, Roberto Cenni conta que “O vale do rio Itororó teve sua ocupação iniciada com fazendas, quilombos, locais de açoites de escravos e pequenas chácaras, sendo posteriormente aberta a avenida 23 de Maio. Na encosta do vale havia casas de grandes quintais, com frente para a rua Vergueiro, em cujo leito subterrâneo foi construído o metrô. Na administração de Miguel Colassuono surgiu o Projeto Vergueiro (julho de 1973), uma tentativa de reurbanização da área resultante das desapropriações efetuadas pela Companhia do Metropolitano de São Paulo para a construção de sua linha norte-sul. Contando com uma área de 300.000 metros quadrados, o terreno apresentava um grande desnível entre a rua Vergueiro e a avenida 23 de Maio e, segundo o projeto da EMURB - Empresa Municipal de Urbanização, ali seriam construídos um complexo de torres de escritórios, hotéis e um shopping-center, sendo o espaço restante destinado à construção de uma gigantesca biblioteca pública municipal e de alguns prédios comerciais.”
Juventude no CCSP |
Arquitetura de amplos espaços, sem divisórias |
Pichação (artística?) |
Eva, escultura de mármore de Victor Brecheret de 1920 |
Dois anos depois o prefeito Olavo Setúbal substituiu o projeto Vergueiro original por outro, mais voltado para a cultura, que na administração seguinte, de Reinaldo de Barros, foi enfim reformulado em um centro cultural multidisciplinar, “apoiando-se em duas justificativas básicas, a localização privilegiada e as enormes proporções de um edifício que, se destinado apenas à função de biblioteca, teria excessiva capacidade ociosa”. Ainda segundo a tese de Cenni, “O projeto do CCSP, realizado pelo escritório do arquiteto Eurico Prado Lopes e tendo como co-autor Luiz Benedito Castro Telles, resultou num prédio baixo, que explora a imensidão dos espaços longitudinais em seus quatro pavimentos, os quais se adequaram exatamente à forma de talude do terreno que caracteriza a topografia da região. O conjunto massivo de concreto e aço acaba por se assemelhar, de acordo com alguns observadores, a um portentoso porta-aviões.”
Série Guerrilheiras do fotógrafo Marcos Cimardi |
Rafael Vilarouca, Sala de Estar |
São Paulo ontem e hoje: encontro da Rua José Bonifácio com Rua de São Francisco. |
Céu paulistano |
Num domingo de outono, ao travar conhecimento com o Centro Cultural São Paulo, o que vejo? Jovens e mais jovens estudando, com cadernos, calculadoras, livros, e uma galera menos jovem jogando xadrez. No jardim, gente civilizadamente lendo, conversando, refletindo, namorando. Após um trimestre (iniciado em 15 de março de 2019) morando em São Paulo, enfim percebi a diferença cultural entre São Paulo e Rio. Onde no Rio você vai encontrar, em pleno domingo ensolarado, uma única pessoa que seja, num local público, estudando? Vamos e venhamos, o carioca é mais chegado a uma praia, um samba, uma cerveja, um som alto. Assim como Roma difere de Milão e Munique difere de Berlim, Sampa, conquanto próximo, difere do Rio. São culturas e formações e histórias bem diferentes. A diversidade brasileira, salve, salve.
Mosaico: arara |